terça-feira, 19 de junho de 2012

Um estudo mais aprofundado sobre o conceito de Yin & Yang

O conceito de yin & yang é um dos (se não o mais) antigos da China. Já existia bem antes do taoísmo, confucionismo e qualquer outra linha de pensamento chinês, e não só a cultura chinesa, mas praticamente toda a cultura oriental é baseada neste princípio. Levando em consideração seu sentido principal, trata-se de forças opostas. Yin: princípio feminino, trevas, noite; Yang: princípio masculino, luz, dia. Este assunto é muito complexo, pois falar de Yin & Yang é falar de dois opostos que se complementam, duas coisas que juntas são uma só.


O Símbolo (Taiji)

O símbolo do Yin & Yang é um dos mais perfeitos e completos da humanidade, pois abarca todo o pensamento em si mesmo. A espiral exemplifica o ciclo de todas as coisas: da natureza, da vida, do universo. As duas metades giram infinitamente e só podem existir por causa do apoio da outra. Se uma falha, o ciclo é cortado e nada existiria, pois tudo é constituído pelos opostos, nada existe pela metade. A vida depende da morte assim como o masculino do feminino e o frio do calor, portanto, Yin está para Yang assim como Yang está para Yin. Não há distinção de valores, ambos possuem a mesma importância.

Analisando-se o símbolo, podemos identificar diferentes etapas no ciclo de cada metade. Pensando neste como se fosse um relógio, um novo ciclo começa quando um anterior acaba assim como um novo dia morre para outro novo nascer. Analisemos a figura abaixo:



Como pode ser observado, há uma troca infinita entre as duas fases. Cada uma começa fraca, fortalece-se, chega ao auge, começa a decair, e por fim, dá lugar a outra fase com a mudança, e isso vai acontecendo indefinidamente.

Vejamos como podemos aplicar este conceito aos aspectos da natureza, como os elementos e as estações.


Os cinco elementos

As cinco fases: madeira, fogo, terra, metal e água, para o pensamento taoísta, são especificações inerentes aos elementos da natureza, funcionando como “agentes fundadores do mundo”. Mas combinando-se com o Yin & Yang, estes elementos criam um esquema que classifica toda a natureza, enquadrando cada coisa em um sistema dinâmico de correspondência.

Assim como o Yin & Yang, as cinco fases se complementam em um ciclo de destruição e criação divididas em dois tipos de relacionamentos: conducentes e controladores.


Conducentes
  • Do metal obtemos água: neste contexto, o metal pode ser representado como um vaso ou um recipiente para conter a água. Assim, podemos dizer que o metal aprisiona a água.
  • Da água obtemos madeira: a água da chuva, ou do orvalho, que faz a vida vegetal florescer, produzindo madeira.
  • Da madeira obtemos fogo: o fogo precisa de combustível para existir, e é a queima da madeira que o produzirá.
  • Do fogo obtemos terra: simbolicamente, o fogo reduz tudo a cinzas, que por sua vez volta a ser parte da terra.
  • Da terra obtemos metal: todo metal é extraído da terra.

Controladores

Para os chineses, o universo inteiro é composto por estes cinco elementos. Eles são interdependentes e cada um é controlado pelo outro. O metal é controlado pelo fogo, pois só pode ser derretido e forjado sob a ação de grande calor;
  • O fogo é controlado pela água, que é capaz de apagá-lo;
  • A água é controlada pela terra, pois cavamos canais na terra para irrigar os campos, ou construímos diques para conter ou absorvê-la;
  • A terra é controlada pela madeira, porque as árvores e suas raízes mantêm o solo unido e retiram o seu alimento dela;
  • A madeira é controlada pelo metal, pois até mesmo a maior das árvores pode ser derrubada pela lâmina de metal de um machado.
A partir deste sistema, podemos perceber que nenhum elemento pode ser considerado mais forte ou mais fraco. Assim como o Yin & Yang, eles dependem eternamente um do outro e são de igual importância. Estão completamente ligados por este ciclo que produz sua própria existência, não havendo qualquer espécie de disputa pelo poder. Cada um exerce sua própria função.

Algo interessante de se mencionar é que até a medicina chinesa também é influenciada pelo conceito dos cinco elementos, sendo que cada um exerce uma influência em cada um dos cinco órgãos mais importantes. O metal está ligado aos pulmões, o fogo controla o coração, a água associa-se com os rins, a terra influencia o baço e o pâncreas, e a madeira é identificada com o fígado. Portanto, se, por exemplo, a terra (pâncreas) está afetada, o metal (pulmões) também enfraquece, e assim por diante.

O Yin & Yang fazem nascer os cinco elementos, que por suas várias combinações, produzem as dez-mil-coisas, ou seja, tudo no universo.




As Estações do Ano

Segundo Marcel Granet, os antigos sábios chineses usaram o conceito de yin & yang como princípio diretivo para a organização do calendário. Os chineses vêem no calendário uma lei suprema que lhes parece reger as práticas da natureza, pois ela é a regra que domina a totalidade dos hábitos humanos, sendo assim, o yin & yang aparecem como os princípios do ritmo das estações do ano.

Estudos apontam que o símbolo do taiji foi inventado por agricultores a fim de utilizá-lo como uma espécie de “gabarito das estações” para conseguirem controlar as épocas de plantio e de colheita. Só devemos tomar cuidado para não confundirmos o símbolo com o conceito, que é ainda mais antigo.

Os agricultores fincaram um poste de 08 pés (aproximadamente 2,5 metros) no chão, marcaram a extremidade da sombra projetada pelo poste, do sol e da lua. Criaram um gabarito desenhando 06 círculos concêntricos e 24 linhas radiais a partir do poste, gravando o comprimento da sombra de cada dia.

Com este gabarito puderam calcular a duração da rotação da Terra em torno do Sol, calcularam aproximadamente 365,25 dias, conseguindo assim marcar a época exata dos equinócios da primavera e outono e solstícios de verão e inverno.

Imagem do gabarito e figura obtida.


Em seus estudos, os agricultores notaram que um ciclo termina quando o outro se inicia, não podendo assim uma parte existir sem a outra, por isso acrescentaram ao desenho pequenos círculos que foram denominados como o pequeno yin e pequeno yang no ponto máximo do seu oposto complementar. O acréscimo destes dois pequenos círculos deixou o símbolo parecido com dois pequenos peixes.

Taiji-tu terminado, com os solstícios e equinócios.




A influência no Taoísmo

O taoísmo é um sistema de pensamento chinês que tem sua origem vinculada a Laozi (老子), suposto fundador e autor do livro Dao De Jing (道德經). Não há certeza quanto a sua origem, mas estipula-se que tenha vivido no sec. VI antes da era cristã e que tenha escrito o livro antes de sair de sua cidade para nunca mais ser visto a pedido de um guarda, que era seu amigo.

O livro é um compêndio de 81 poemas místicos que tratam, de uma forma ou de outra, da natureza. A forma como foram escritos é profundamente metafórico e enigmático, sendo assim de difícil interpretação. No entanto, todo o discurso do livro se baseia em um conceito principal: yin & yang.

Nos poemas do livro, tudo o que se discute é baseado na comparação dos opostos: beleza e feiúra; vida e morte, difícil e fácil; curto e longo, etc. A abordagem que muitos estudiosos taoístas usam para este conceito é de que nada existiria sem algo de igual valor para se fazer seu oposto. As coisas só podem existir por comparações, por exemplo: como alguém pode conhecer a verdadeira felicidade sem antes ter experimentado a verdadeira tristeza? Todas as coisas dependem de seus opostos para existir, pois como fica bem claro no próprio símbolo do taiji, um oposto ampara o outro. Se um deles deixasse de existir, o outro não teria onde se firmar e também sucumbiria.

Este conceito de oposições é tão lógico que também existe em várias outras culturas não orientais, no entanto, foram os chineses que conseguiram sintetizar tão bem este conceito a um símbolo, criando assim uma imagem que se explica por si só, influenciando fortemente todo o pensamento do extremo oriente. Não é por menos que o símbolo do taiji também é chamado de “Princípio fundamental de toda a matéria”.


Bibliografia

Laozi. In: Dao De Jing. [Org. e trad. Mario Bruno Sproviero] – São Paulo: Hedra, 2007

Marcel Granet. In: O Pensamento Chinês – Rio de Janeiro: Contraponto, 2ª Edição – 2004

Massimo Raveri. In: Índia e Extremo Oriente: Via da Libertação e da Imortalidade – São Paulo: Hedra, 1ª Edição – 2005

Theodora Lau. In: Manual do Horóscopo Chinês – São Paulo: Pensamento, 1ª Edição – 1989

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