sexta-feira, 1 de junho de 2012

As três grandes religiões da China


A China é um país de muitas crenças. Nos dias de hoje, podemos encontrar religiões como o islamismo, o catolicismo, o protestantismo, entre outras. Mas as religiões originais que serviram como base para o pensamento chinês são três: Taoísmo, Confucionismo e Budismo.

O Taoísmo
É baseado, principalmente, nos escritos de Laozi (老子), o Dao De Jing (道德经), e Chuangzi (庄子) com um livro de mesmo nome.
O livro Tao Te Ching (ou Dao De Jing) disserta sobre o Tao (caminho, via espiritual) e consta que foi escrito no sec. V a.C. É constituído de 81 poemas que se utilizam de diversos simbolismos para se fazer entender o que vem a ser o Tao. Na verdade, o significado desta palavra se mantém um mistério, pois no Tao Te Ching, ora tenta-se explicar o que é o Tao, ora afirma-se que não há explicação possível. É através desta dualidade de ideias que o livro é escrito.
Já o livro de Chuangzi é escrito em prosa e se constitui de pequenas histórias que, com muito humor e uma forte simbologia, tentam retomar os ensinamentos do Tao Te Ching de uma forma diferente. Escrito aproximadamente dois séculos depois do Tao Te Ching, sec. II a.C., parece que a intenção de Chuangzi era fazer uma releitura do livro de Laozi de uma forma mais simples para facilitar a difusão do pensamento taoísta.
De uma forma geral, o Taoísmo prega a harmonia com a natureza. O pensamento taoísta é contra a automatização da sociedade, ou seja, contra qualquer tipo de alienação. Qualquer influência que não seja provinda da natureza é prejudicial.

O Confucionismo
Consta-se que Confúcio nasceu por volta de 551 a.C. no reino de Lu em uma família nobre, mas empobrecida, durante a Dinastia Zhou Oriental. Ele pregava uma filosofia moral que tem como base a aprendizagem, a benevolência e o rito aos ancestrais. Segundo Confúcio, uma vida boa e benevolente só poderia surgir em uma sociedade bem disciplinada, que valorizasse os ritos, o dever, a moralidade e o serviço público.
Seu sistema moral é baseado na empatia e na compreensão. É centrado em três conceitos, denominados li ou “ação ideal”, yi ou “honradez”, e ren ou “compaixão humana ou empatia”.

O Budismo
O Budismo começou a prosperar na China durante a Dinastia Han. Chegou na China através da Índia, e só então se espalhou por outras partes da Ásia. Foi fundado durante os séculos 4 ou 5 a.C. no Nepal por Sidarta Gautama, mais conhecido como Shakyamuni, e reconhecido pelos budistas como o Buda Supremo.
O Budismo prega a pureza da mente e das ações e a purificação do carma (lei da causalidade moral). As boas ações geram uma reação de mesma qualidade e intensidade, nesta vida ou em uma outra encarnação, gerando carma positivo, e a mesma lei age sobre as más ações, gerando carma negativo. Com o carma livre de toda a negatividade, é possível atingir o estado do nirvana – o fim do sofrimento trazido pela existência cíclica.

A importância destas três religiões para os chineses
Um curioso fato em relação a estas três religiões, é que seus fundadores nasceram a menos de duas décadas de diferença entre cada um. Laozi provavelmente nasceu em 570 a.C., Buda em 563 e Confúcio em 551.
Naturalmente, estas três manifestações religiosas possuem seus contrastes e diferenças entre si, mas para os chineses, isso não impediu um certo “sincretismo” entre estas três influências.

A influência confuciana
Tendo em mente que uma das principais abordagens de Confúcio era a educação, esta se reflete, e muito, no sistema educacional, não só da China, mas do Japão, Coréia e outros países asiáticos até os dias atuais.
É responsabilidade do governo oferecer aos cidadãos uma educação de qualidade, pois é através do ensino que uma sociedade se torna civilizada. Como o confucionismo se baseia na devoção e na disciplina, é através da Grande Aprendizagem que o homem adquirirá os conceitos morais e éticos para melhor ajudar e servir seu governo.
O confucionismo também era seguido como doutrina governamental. Nos governos que seguem a virtude e as normas de conduta, as pessoas desenvolvem por si mesmas um elevado sentido de moralidade e comportamento correto de tal modo que ameaças e punições não são necessárias, porque o povo sabe agir corretamente. Para Confúcio, um mundo harmonioso seria aquele onde cada pessoa reconheceria o seu lugar na sociedade. Se os filhos obedecessem aos pais e os súditos aos governantes, assim, haveria ordem e paz.

A influência taoísta
Ao contrário do confucionismo, o taoísmo não aceita uma moral socialmente orientada. Para o taoísta, a verdadeira moral é aquela que a natureza nos ensina, e é observando as leis naturais de oposição (yin e yang): noite e dia, frio e calor, feminino e masculino, vida e morte, que o taoísta baseará seu modo de vida.
O modo de agir de quem segue o Tao é sempre pela não-ação. O conceito de não-ação é muito complicado, mas levando em consideração a filosofia dos opostos (yin e yang), o não-agir quer dizer praticar alguma ação através do seu oposto. Por exemplo: no conceito taoísta, aquele que fala não sabe. O verdadeiro sábio é aquele que não manifesta sabedoria alguma.
As influências do taoísmo podem ser tranquilamente percebidas na medicina, na culinária e na arte chinesa, principalmente na pintura. A pintura taoísta é muito suave e, quando não é em branco e preto, suas cores são muito equilibradas. É muito comum pinturas de paisagens, montanhas principalmente, e de animais, como carpas e garças, e com todos os elementos em total harmonia.
Onde o taoísmo também mantém uma forte influência são nas artes marciais, e não só nas chinesas, como o tai chi, o wing chun, mas também nas japonesas, como o Aikido e nas coreanas, como o Hapikido. Na China, existe uma montanha chamada Wu Tang onde as práticas da arte marcial taoísta, e do taoísmo em geral, são levadas muito a sério.

A influência budista
Na China existem 56 grupos étnicos, cada um com sua própria cultura e religião, mas entre todas as religiões, o budismo é a que mais tem adeptos.
É muito difícil avaliar o número de praticantes do budismo na China, pois estão espalhados por todo o pais, e não existe um ritual de iniciação com contagem de novos adeptos. O budismo chinês tem pelo menos 40 mil monges e monjas e mais de 5 mil templos e monastérios.
Os monastérios e pagodas budistas encontram-se em todas as regiões da China, e muitos dos quais são mundialmente famosos por sua arte budista, e as construções budistas são consideradas como joias da antiga arte chinesa. A Associação Budista da China, estabelecida em 1953, é uma organização nacional, com 14 filiadas, e seu próprio jornal, o Fayin.
O budismo chinês recebeu muita influência do taoísmo, pois a forma de pensamento indiano na qual o budismo foi fundado era muito diferente da forma de pensamento chinesa, por isso, conceitos já existentes na tradição chinesa, que por analogia eram os mais próximos, foram os conceitos taoistas. Esta escolha de como foi introduzido o budismo na China, ao mesmo tempo em que modificava a ortodoxia do ensinamento, por outro lado, dava ao budismo novas concepções filosóficas. Esta influência perdurou mesmo quando os chineses obtiveram um conhecimento mais preciso e profundo da doutrina ortodoxa.
Nas artes marciais chinesas o budismo também teve muita influência. Existem inúmeros templos shaolins espalhados pelo sul e pelo norte da china onde são verdadeiros centros de treinamento marcial. Os monges shaolins se utilizam do wu shu (武術), mais conhecido como kung fu shaolin como forma de educar o corpo e a mente. Levando em conta a ideia de que sofrimento é evolução, os monges treinam arduamente e são capazes de fazer coisas impressionantes para demonstrar sua fé no budismo.

E o chinês nisso tudo?
Mesmo sendo o budismo a religião que mais têm adeptos na China, a forma de pensar do chinês é, na verdade, ao mesmo tempo confuciana e taoísta.
O célebre intelectual chinês do sec. XX. Lin Yutang, disse em sua obra a Impotância de Viver “que o taoísmo e o confucionismo significam somente as perspectivas negativa e positiva da vida.”, ainda: “Todos nascemos metade taoístas e metade confucionistas.”
Não é no taoísmo, mas na filosofia do humanismo que o mais alto ideal do pensamento chinês está, pois simboliza o homem que não se reclusa nas montanhas tentando escapar da sociedade para se tornar mais feliz. O verdadeiro recluso é aquele que mora na cidade e tem domínio o suficiente para não ser influenciado pelo que o rodeia.
Segundo Lin Yutang, a união das duas filosofias é possível, pois o contraste entre o taoísmo e o confucionismo é relativo, porque ambas as doutrinas formulam dois grandes extremos, mas entre eles há muitas etapas intermediárias.

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