A China é um país de muitas crenças. Nos
dias de hoje, podemos encontrar religiões como o islamismo, o catolicismo, o
protestantismo, entre outras. Mas as religiões originais que serviram como base
para o pensamento chinês são três: Taoísmo, Confucionismo e Budismo.
O Taoísmo
É baseado, principalmente, nos escritos
de Laozi (老子), o Dao De
Jing (道德经), e Chuangzi (庄子) com um livro de mesmo nome.
O livro Tao Te Ching (ou Dao De Jing)
disserta sobre o Tao (caminho, via
espiritual) e consta que foi escrito no sec. V a.C. É constituído de 81 poemas
que se utilizam de diversos simbolismos para se fazer entender o que vem a ser
o Tao. Na verdade, o significado
desta palavra se mantém um mistério, pois no Tao Te Ching, ora tenta-se
explicar o que é o Tao, ora afirma-se
que não há explicação possível. É através desta dualidade de ideias que o livro
é escrito.
Já o livro de Chuangzi é escrito em prosa
e se constitui de pequenas histórias que, com muito humor e uma forte
simbologia, tentam retomar os ensinamentos do Tao Te Ching de uma forma
diferente. Escrito aproximadamente dois séculos depois do Tao Te Ching, sec. II
a.C., parece que a intenção de Chuangzi era fazer uma releitura do livro de
Laozi de uma forma mais simples para facilitar a difusão do pensamento taoísta.
De uma forma geral, o Taoísmo prega a
harmonia com a natureza. O pensamento taoísta é contra a automatização da
sociedade, ou seja, contra qualquer tipo de alienação. Qualquer influência que
não seja provinda da natureza é prejudicial.
O
Confucionismo
Consta-se que Confúcio nasceu por volta
de 551 a.C. no reino de Lu em uma família nobre, mas empobrecida, durante a Dinastia
Zhou Oriental. Ele pregava uma filosofia moral que tem como base a aprendizagem,
a benevolência e o rito aos ancestrais. Segundo Confúcio, uma vida boa e
benevolente só poderia surgir em uma sociedade bem disciplinada, que
valorizasse os ritos, o dever, a moralidade e o serviço público.
Seu sistema moral é baseado na empatia e na
compreensão. É centrado em três conceitos, denominados li ou “ação ideal”, yi
ou “honradez”, e ren ou “compaixão humana ou empatia”.
O Budismo
O Budismo começou a prosperar na China
durante a Dinastia Han. Chegou na China através da Índia, e só então se
espalhou por outras partes da Ásia. Foi fundado durante os séculos 4 ou 5 a.C. no Nepal por
Sidarta Gautama, mais conhecido como Shakyamuni, e reconhecido pelos budistas
como o Buda Supremo.
O Budismo prega a pureza da mente e das
ações e a purificação do carma (lei da causalidade moral). As boas ações geram uma reação de
mesma qualidade e intensidade, nesta vida ou em uma outra encarnação, gerando
carma positivo, e a mesma lei age sobre as más ações, gerando carma negativo.
Com o carma livre de toda a negatividade, é possível atingir o estado do
nirvana – o fim do sofrimento trazido pela existência cíclica.
A importância destas três religiões para os chineses
Um curioso fato em relação a estas três
religiões, é que seus fundadores nasceram a menos de duas décadas de diferença
entre cada um. Laozi provavelmente nasceu em 570 a.C., Buda em 563 e Confúcio
em 551.
Naturalmente, estas três manifestações
religiosas possuem seus contrastes e diferenças entre si, mas para os chineses,
isso não impediu um certo “sincretismo” entre estas três influências.
A influência confuciana
Tendo
em mente que uma das principais abordagens de Confúcio era a educação, esta se
reflete, e muito, no sistema educacional, não só da China, mas do Japão, Coréia
e outros países asiáticos até os dias atuais.
É
responsabilidade do governo oferecer aos cidadãos uma educação de qualidade, pois
é através do ensino que uma sociedade se torna civilizada. Como o confucionismo
se baseia na devoção e na disciplina, é através da Grande Aprendizagem que o
homem adquirirá os conceitos morais e éticos para melhor ajudar e servir seu
governo.
O
confucionismo também era seguido como doutrina governamental. Nos governos que
seguem a virtude e as normas de conduta, as pessoas desenvolvem por si mesmas
um elevado sentido de moralidade e comportamento correto de tal modo que
ameaças e punições não são necessárias, porque o povo sabe agir corretamente.
Para Confúcio, um mundo harmonioso seria aquele onde cada pessoa reconheceria o
seu lugar na sociedade. Se os filhos obedecessem aos pais e os súditos aos
governantes, assim, haveria ordem e paz.
A
influência taoísta
Ao
contrário do confucionismo, o taoísmo não aceita uma moral socialmente
orientada. Para o taoísta, a verdadeira moral é aquela que a natureza nos
ensina, e é observando as leis naturais de oposição (yin e yang): noite e dia,
frio e calor, feminino e masculino, vida e morte, que o taoísta baseará seu
modo de vida.
O
modo de agir de quem segue o Tao é sempre pela não-ação. O conceito de não-ação
é muito complicado, mas levando em consideração a filosofia dos opostos (yin e
yang), o não-agir quer dizer praticar alguma ação através do seu oposto. Por
exemplo: no conceito taoísta, aquele que fala não sabe. O verdadeiro sábio é
aquele que não manifesta sabedoria alguma.
As
influências do taoísmo podem ser tranquilamente percebidas na medicina, na
culinária e na arte chinesa, principalmente na pintura. A pintura taoísta é
muito suave e, quando não é em branco e preto, suas cores são muito equilibradas.
É muito comum pinturas de paisagens, montanhas principalmente, e de animais,
como carpas e garças, e com todos os elementos em total harmonia.
Onde
o taoísmo também mantém uma forte influência são nas artes marciais, e não só
nas chinesas, como o tai chi, o wing chun, mas também nas japonesas, como o
Aikido e nas coreanas, como o Hapikido. Na China, existe uma montanha chamada
Wu Tang onde as práticas da arte marcial taoísta, e do taoísmo em geral, são levadas
muito a sério.
A influência budista
Na China existem 56 grupos étnicos, cada um com sua própria
cultura e religião, mas entre todas as religiões, o budismo é a que mais tem
adeptos.
É muito difícil avaliar o número de praticantes do budismo na
China, pois estão espalhados por todo o pais, e não existe um ritual de
iniciação com contagem de novos adeptos. O budismo chinês tem pelo menos 40 mil
monges e monjas e mais de 5 mil templos e monastérios.
Os monastérios e pagodas budistas encontram-se em todas as
regiões da China, e muitos dos quais são mundialmente famosos por sua arte
budista, e as construções budistas são consideradas como joias da antiga arte
chinesa. A Associação Budista da China, estabelecida em 1953, é uma organização
nacional, com 14 filiadas, e seu próprio jornal, o Fayin.
O
budismo chinês recebeu muita influência do taoísmo, pois a forma de pensamento
indiano na qual o budismo foi fundado era muito diferente da forma de
pensamento chinesa, por isso, conceitos já existentes na tradição chinesa, que
por analogia eram os mais próximos, foram os conceitos taoistas. Esta escolha
de como foi introduzido o budismo na China, ao mesmo tempo em que modificava a ortodoxia
do ensinamento, por outro lado, dava ao budismo novas concepções filosóficas.
Esta influência perdurou mesmo quando os chineses obtiveram um conhecimento mais
preciso e profundo da doutrina ortodoxa.
Nas
artes marciais chinesas o budismo também teve muita influência. Existem
inúmeros templos shaolins espalhados pelo sul e pelo norte da china onde são
verdadeiros centros de treinamento marcial. Os monges shaolins se utilizam do
wu shu (武術), mais conhecido
como kung fu shaolin como forma de educar o corpo e a mente. Levando em conta a
ideia de que sofrimento é evolução, os monges treinam arduamente e são capazes
de fazer coisas impressionantes para demonstrar sua fé no budismo.
E o chinês nisso tudo?
Mesmo sendo o budismo a religião que mais têm adeptos na
China, a forma de pensar do chinês é, na verdade, ao mesmo tempo confuciana e
taoísta.
O célebre intelectual chinês do sec. XX. Lin Yutang, disse em
sua obra a Impotância de Viver “que o
taoísmo e o confucionismo significam somente as perspectivas negativa e
positiva da vida.”, ainda: “Todos nascemos metade taoístas e metade
confucionistas.”
Não é no taoísmo, mas na filosofia do humanismo que o mais
alto ideal do pensamento chinês está, pois simboliza o homem que não se reclusa
nas montanhas tentando escapar da sociedade para se tornar mais feliz. O
verdadeiro recluso é aquele que mora na cidade e tem domínio o suficiente para
não ser influenciado pelo que o rodeia.
Segundo Lin Yutang, a união das duas filosofias é possível,
pois o contraste entre o taoísmo e o confucionismo é relativo, porque ambas as
doutrinas formulam dois grandes extremos, mas entre eles há muitas etapas
intermediárias.
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