terça-feira, 25 de maio de 2010

Os chineses e o yin & yang

O célebre intelectual chinês do sec. XX. Lin Yutang disse em sua obra A Impotância de Viver “que o taoísmo e o confucionismo significam somente as perspectivas negativa e positiva da vida.”, ainda: “Todos nascemos metade taoístas e metade confucionistas.”. Não é no taoísmo, mas na filosofia do humanismo que o mais alto ideal do pensamento chinês está, pois simboliza o homem que não se reclusa nas montanhas tentando escapar da sociedade para se tornar mais feliz. O verdadeiro recluso é aquele que mora na cidade e tem domínio o suficiente para não ser influenciado pelo que o rodeia.

Segundo Lin Yutang, a união das duas filosofias é possível, pois o contraste entre o taoísmo e o confucionismo é relativo, porque ambas as doutrinas formulam dois grandes extremos, mas entre eles há muitas etapas intermediárias.

Para ilustrar esta dualidade do pensamento chinês, nada melhor que A Canção da Metade, de Li Mi-an:

"A maior metade eu já vi desta flutuante vida. Ah! mágica palavra, essa metade! Tão significativa! Convida-nos a degustar a alegria de mais do que podemos possuir. A metade do caminho, para o homem, é o melhor estado, quando o passo mais lento lhe autoriza a calma; um amplo mundo jaz entre o céu e a terra; viver a meio caminho entre o campo e a cidade, ter granjas a meio do caminho do arroio e da colina; ser metade estudioso, e metade proprietário, e metade negociante, viver metade como os nobres e metade como a gente comum; e possuir uma casa que é metade luxuosa e metade singela, elegantemente meio mobiliada e meio desnuda; vestuários que não são velhos nem novos, e a comida metade epicúria e metade vulgar; ter serventes nem muito hábeis nem muito tolos; uma esposa que não é nem demasiado simples nem demasiado sabida... Então sinto no coração que sou pela metade um Buda e quase pela metade um santo espírito taoísta. A metade de mim ao Céu Nosso Pai devolvo, a outra metade a meus filhos deixo... Metade pensando como prover à minha posteridade e metade pensando como defrontar-me com o Senhor dos Mortos. É mais prudente ébrio quem é metade ébrio. E as flores meio abertas são mais belas. Como navegam melhor os barcos a meia-vela e melhor trota o cavalo a meia-rédea! Quem tem uma metade demais, que ansiedade! Mas quem de menos tem com mais fervor possui sua metade. Pois a vida é composta de amargor e doçura, e é mais sábio e mais hábio quem só lhes prova a metade." (Lin, Yutang. In: A Importância de Viver, pag. 113).

Aí está um belo exemplo da coexistência do cinismo taoísta com a positividade confuciana. Assim como o homem vive entre o céu e a terra, os chineses vivem entre estas duas doutrinas definitivamente opostas. Nada melhor para exemplificar a harmonia dos opostos (yin & yang).