Mais de um mês sem postar!!! Tenho que me desculpar com vocês por isso.
Para tentar compensar a demora, posto agora um belíssimo conto fantástico chinês. Chama-se A Deusa de Jade e faz parte de um livro de mesmo nome que contem vários outros contos chineses famosos compilados por Lin Yutang. Espero que gostem.
Como sempre, está em formato PDF. Clique aqui para baixar.
O célebre intelectual chinês do sec. XX. Lin Yutang disse em sua obra A Impotância de Viver “que o taoísmo e o confucionismo significam somente as perspectivas negativa e positiva da vida.”, ainda: “Todos nascemos metade taoístas e metade confucionistas.”. Não é no taoísmo, mas na filosofia do humanismo que o mais alto ideal do pensamento chinês está, pois simboliza o homem que não se reclusa nas montanhas tentando escapar da sociedade para se tornar mais feliz. O verdadeiro recluso é aquele que mora na cidade e tem domínio o suficiente para não ser influenciado pelo que o rodeia.
Segundo Lin Yutang, a união das duas filosofias é possível, pois o contraste entre o taoísmo e o confucionismo é relativo, porque ambas as doutrinas formulam dois grandes extremos, mas entre eles há muitas etapas intermediárias.
Para ilustrar esta dualidade do pensamento chinês, nada melhor que A Canção da Metade, de Li Mi-an:
"A maior metade eu já vi desta flutuante vida. Ah! mágica palavra, essa metade! Tão significativa! Convida-nos a degustar a alegria de mais do que podemos possuir. A metade do caminho, para o homem, é o melhor estado, quando o passo mais lento lhe autoriza a calma; um amplo mundo jaz entre o céu e a terra; viver a meio caminho entre o campo e a cidade, ter granjas a meio do caminho do arroio e da colina; ser metade estudioso, e metade proprietário, e metade negociante, viver metade como os nobres e metade como a gente comum; e possuir uma casa que é metade luxuosa e metade singela, elegantemente meio mobiliada e meio desnuda; vestuários que não são velhos nem novos, e a comida metade epicúria e metade vulgar; ter serventes nem muito hábeis nem muito tolos; uma esposa que não é nem demasiado simples nem demasiado sabida... Então sinto no coração que sou pela metade um Buda e quase pela metade um santo espírito taoísta. A metade de mim ao Céu Nosso Pai devolvo, a outra metade a meus filhos deixo... Metade pensando como prover à minha posteridade e metade pensando como defrontar-me com o Senhor dos Mortos. É mais prudente ébrio quem é metade ébrio. E as flores meio abertas são mais belas. Como navegam melhor os barcos a meia-vela e melhor trota o cavalo a meia-rédea! Quem tem uma metade demais, que ansiedade! Mas quem de menos tem com mais fervor possui sua metade. Pois a vida é composta de amargor e doçura, e é mais sábio e mais hábio quem só lhes prova a metade." (Lin, Yutang. In: A Importância de Viver, pag. 113).
Aí está um belo exemplo da coexistência do cinismo taoísta com a positividade confuciana. Assim como o homem vive entre o céu e a terra, os chineses vivem entre estas duas doutrinas definitivamente opostas. Nada melhor para exemplificar a harmonia dos opostos (yin & yang).
Consta-se que Confúcio nasceu por volta de 551 a.C. no reino de Lu em uma família nobre, mas empobrecida, durante a Dinastia Zhou Oriental. Ele pregava uma filosofia moral que tem como base a aprendizagem, a benevolência e o rito aos ancestrais. Segundo Confúcio, uma vida boa e benevolente só poderia surgir em uma sociedade bem disciplinada, que valorizasse os ritos, o dever, a moralidade e o serviço público. Seu sistema moral é baseado na empatia e na compreensão. É centrado em três conceitos, denominados li ou “ação ideal”, yi ou “honradez”, e ren ou “compaixão humana ou empatia”.
Considerado um virtuoso pela sua integridade e honestidade, tornou-se professor e consultor de governos. Seus ensinamentos foram compilados num livro em um único volume chamado "Os Anacletos de Confúcio". Os seus ensinamentos só mais tarde vieram a ganhar importância decisiva com a dinastia Han (206 a.C.), responsável pela consolidação da unificação do império chinês.
A filosofia confuciana foi, então, decretada oficial, já que os seus ensinamentos e princípios éticos de respeito pela hierarquia e pela manutenção de uma certa ordem social eram susceptíveis de apoiar e reforçar um forte poder central.
Uma pessoa virtuosa, segundo Confúcio, exibe auto-reflexão, contenção, devoção, sentido de responsabilidade e respeito pelos mais velhos. Estas mesmas características tornavam difícil que um indivíduo se opusesse a quaisquer práticas ou atividades do imperador, mesmo que não concordasse com elas.
Os grandes problemas do tempo de Confúcio eram, sobretudo, governamentais: como governar, como manter a ordem na sociedade, como garantir a felicidade e a prosperidade das populações. Para Confúcio, a solução principal estava na educação. Governar é, acima de tudo, educar e formar.
Foi com base nestes princípios que o acesso aos postos oficiais na China se passou a fazer através de exames, e que o sistema se estruturou numa vasta e complexa burocracia. Confúcio visualizava um mundo em que a harmonia poderia ser atingida se todos e cada um reconhecesse o seu lugar na sociedade. Se os filhos obedecessem aos pais e os súbditos aos governantes, poderia haver ordem e paz.
Cem anos mais tarde, Mêncio, seguidor de Confúcio, tornou estes princípios ainda mais idealistas. A sua teoria de governo pela benevolência baseava-se na aceitação de que todo o ser humano é essencialmente bom. As qualidades de benevolência, retidão e sabedoria são inatas: uns são capazes de as conservar, outros não.
Na China, o dragão (龍; lóng), a fênix (凤凰; fèng huáng), o qílín (麒麟) e a tartaruga (龟; guī) são considerados deidades auspiciosas e são profundamente reverenciados e respeitados. Das quatro criaturas, apenas a tartaruga é real, sendo os outros animais figuras mitológicas.
O dragão é o maior dos animais divinos e também é o mais reverenciado pelo povo chinês. Ele é formado por diversos animais: cabeça de boi, chifres de cervo, olhos de camarão, garra de águia, corpo de serpente e rabo de leão. Seu corpo é coberto de escamas e ele pode andar na terra, nadar na água e voar nos céus e tem poderes mágicos inesgotáveis. Por milhares de anos, os monarcas tinham o dragão como símbolo de poder e dignidade. Nos tetos dos palácios, nas roupas e móveis da família real havia sempre um dragão esculpido ou desenhado.
Diferentemente da cultura ocidental, o dragão no oriente é associado a bondade e representa nobreza, divindade e poder.
A fênix é um pássaro com uma linda plumagem multicolorida e foi consagrada pelos chineses como sendo o “pássaro reinante entres as aves”. Dentre os animais divinos, a fênix é o segundo mais reverenciado pelo povo, ficando atrás apenas do dragão. Quando o dragão se tornou o símbolo do Imperador, ela passou a representar a imperatriz. Na época a sua figura esplendorosa só podia ser usada pela família real, sendo proibido o uso pelo povo. Sua imagem representa paz, bom governo, o poder real e a dignidade dos monarcas.
Atualmente a fênix e o dragão aparecem em par nas cerimônias de casamento tradicional, em: velas, nome de bolos e na ornamentação das roupas dos noivos, simbolizando a perfeita harmonia entre yin e yang que deve fundamentar a relação do casal. A fênix, neste caso, representa yīn (阴), a mulher, a terra etc. e o dragão representa yáng (阳), o homem, o céu etc.
Por gerações pessoas deram o nome da fênix para comidas, músicas e filhas, com a esperança que essas tivessem as características esplêndidas desta ave auspiciosa.
O qílín é uma criatura exótica que deve ser pouco conhecida no Brasil. Sua aparência é composta por vários animais: chifre de cervo, escamas de peixe, cabeça de dragão, pés de boi e rabo de boi. Ele é uma criatura sagaz, inteligente e benevolente e simboliza a paz e a prosperidade. As lendas dizem que sua dieta não inclui carne e que quando anda, nunca machuca nenhuma criatura viva, chegando a pisar na grama sem amassa. Apesar de benevolente o qílín tem a reputação de ser feroz quando encontra demônios ou pessoas más.
Existe uma crença que o qílín pode trazer um filho para um casal sem descendentes, por isso é comum ver cortes de papel ou pinturas da criatura mítica carregando um bebê.
Estátuas do qílín de pedra e bronze podem ser encontradas em diversas construções chinesas, como a Cidade Proibida (紫禁城; zǐjinchéng) e o Palácio de Verão (颐和园; yíhé yuán)
A tartaruga é um animal que goza de uma longa vida, chegando a ter centenas de anos e por isso é considerada símbolo de longevidade e saúde. Ainda é atribuída a tartaruga a capacidade de prever o futuro e por esta razão o povo chinês a chama também de “tartaruga divina” (神龟 – shén guī). Em tempos imemoriáveis, antes de uma atividade importante ser realizada, os sacerdotes colocavam os cascos das tartarugas no fogo, com diversas inscrições, e faziam adivinhações com base na interpretação das rachaduras que apareciam após a queima. Nos palácios imperiais é comum encontrar muitas esculturas deste animal, simbolizando a longevidade, brilhantismo e conhecimento do império chinês.
Devo me desculpar pela enorme ausência. Mais de um mês sem postar no blog.
Estava atrasado com as leituras da faculdade e demorei um pouco para me organizar. Mas a partir de agora prometo que voltarei a postar com bem mais frequência. Então, voltemos a isto.
Segue para download o segundo capítulo do livro Chuang Tzu - Ensinamentos Essenciais. Neste capítulo consta a famosa parábola do sonho da borboleta. Esta parábola foi interpretada por Raul Seixas em sua música O Conto do Sábio Chinês. É um capítulo bem introdutório sobre alguns conceitos taoístas fundamentais. Espero que gostem.
Este conto é do mesmo livro que o anterior e é o meu preferido de todo o livro. Fala sobre uma amizade que à primeira vista seria totalmente inconveniente e sobre autodescoberta. Até hoje quando o leio, comove-me muito. Chama-se O Guerreiro Que Encontrou A Paz. Clique aqui para baixar.
O taoísmo é um sistema de pensamento chinês que tem sua origem vinculada a Laozi (老子), suposto fundador e autor do livro Dao De Jing (道德經). Não há certeza quanto a sua origem, mas estipula-se que tenha vivido no sec. VI antes da era cristã e que tenha escrito o livro antes de sair de sua cidade para nunca mais ser visto a pedido de um guarda, que era seu amigo.
O livro é um compêndio de 81 poemas místicos que tratam, de uma forma ou de outra, da natureza. A forma como foram escritos é profundamente metafórica e enigmática, sendo assim de difícil interpretação. No entanto, todo o discurso do livro se baseia em um conceito principal: yin & yang.
Nos poemas do livro, tudo o que se discute é baseado na comparação dos opostos: beleza e feiúra; vida e morte, difícil e fácil; curto e longo, etc. A abordagem que muitos estudiosos taoístas usam para este conceito é de que nada existiria sem algo de igual valor para se fazer seu oposto. As coisas só podem existir por comparações, por exemplo: como alguém pode conhecer a verdadeira felicidade sem antes ter experimentado a verdadeira tristeza? Todas as coisas dependem de seus opostos para existir, pois como fica bem claro no próprio símbolo do tàijí (太极), um oposto ampara o outro. Se um deles deixasse de existir, o outro não teria onde se firmar e também sucumbiria.
Segue um link para baixar uma versão digital do livro em formato PDF: Tao Te Ching
A tradução é do mestre taoísta Wu Jyn Cheng. Para saber mais, acesse Sociedade Taoísta do Brasil: http://www.taoismo.org.br/